Bem te quis, Bem-te-vi,
que voes para onde for, carregando sobre si esse céu protetor. Se voltares,
Bem-te- vi, trazes a alma roubada, dela já sinto saudade; lembra-te também de
trazer os outros passarinhos, aqueles que cantavam na janela do quarto. Certificar-me-ei
de pintar o cenário com aquele bucolismo primordial; de espalhar no ar as
antigas poesias e pingar um tom mais azulado no sol do meio-dia. Se a mágoa
ainda te causar cólera, passarinho, rejeita-a, dela não servirá nem um bocado,
pois até tuas asas não suportam um peso a mais que o teu próprio. Rejeita
também o vento nortenho, esse só quer que a lonjura te leve - para onde não
sei. Porém, se quiseres vir como visita, lembra-te: a casa é a mesma, com
aquela mureta branca onde os gatos fazem a festa. Mas como sei que tu vens de
passagem, igual o tempo intranquilo, aquieta-te em silêncio e repensa a próxima
jornada; abra os braços e parta com destino ao céu laranja das 17:00 em ponto.
Mas lembra-te, antes de partir, certifique-se de que das rosas apenas deixará os espinho, pois deles farei coroa,
tornando-me Messias, salvador de minh‘alma. Mas se queres presentear-me, e fores
com sinceridade que fazes isto, então retorna com as pétalas: das brancas,
fazes nuvem; das azuladas, gotas de chuva; e das vermelhas, sangue, para que
assim meu coração possa voltar a bater, para bem te querer.
