Dizem que quando envelhecemos nos tornamos mais uma vez crianças, isso,
então, nos diz que readquirimos um olhar infantil. Mas, quando digo infantil,
não se engane: não é um olhar bobo e frágil do mundo, mas sim um olhar
engraçado, um banho de tinta em um muro de pedra, ou uma nova pincelada de
cores do que um dia já foi dito perfeito. Se ser idoso é voltar a ser uma
pequena criança, então cabe aqui grandes cuidados, amor e carinho; uma volta na
praça, um sorvete derramado, um sorriso roubado fácil e um abraço daqueles...
apertado! Se ser idoso é realmente ser criança, isso quer dizer que há mais
sinceridade no mundo, que em dias de chuva há um lugar seguro, e que qualquer
varanda ventilada é um paraíso. Se ser idoso é ser criança, então é também amar
e ser amado e, embora não haja reciprocidade, ainda há amor para dar e vender.
Se ser idoso é ser criança, então é sempre ter um sorriso aberto, bom e singelo
que te encanta só de olhar; é te amor e compaixão e, embora retirem tudo dele e
o que sobrar também, ainda há perdão. Se ser idoso é ser criança, é também
esquecer o que foi feito ontem é ouvir e ser ouvido - muito ouvido -; é ensinar
com os seus erros, ser um maquinista das futuras gerações, é ter cheirinho de
lavanda e roupa recém-engomada, e abraçar o mundo como se fosse seu filho. Se
ser idoso é ser criança, também é saber reconhecer seus limites - embora
demore, embora não reconheça -, é saber que quando chegada a hora de dormir,
haverá um sorriso de dever cumprido. Saber que a vida começa todos os dias.