terça-feira, 2 de julho de 2013

Afogamento

E aqui estou eu. Mais uma vez me encontro no fundo desse lago, onde as ondas não batem, aonde as sombras não chegam e onde os reflexos das luzes, que mais parecem penetrar uma vidraça de catedral, apenas me provocam, pois sabem que nunca chegarão ao final das águas, nem eu terei forças para subir e alcançar à graça. Aqui me encontro: meio morto, meio vivo, essencialmente morto-vivo; um marinheiro pós-naufrágio, onde as únicas canções que lembra são as músicas de nadar (mas não sabe mais). Essa agonia é confortante, me prende, me mantêm submisso a ela; como as algas no fundo do oceano, ela me prende, mas me prende de uma forma delicada e sonolenta (faz parte da armadilha). Às vezes me sinto pequeno nessa vasta tonalidade de azuis, às vezes me sinto transparente como as águas que correm um pouco mais acima, tão transparentes que ninguém, nem mesmo o Narciso que sempre se olha nesse grande espelho, consegue me ver; e talvez a pior e mais idiota das vezes, eu me sinto grande, tão grande que acho que posso beber toda essa água sozinho, trazê-la pra dentro de mim, preencher minha alma com essa abundância, porém no final só restaria lama... Talvez o problema seja esse: o orgulho, achar que eu sou o único capaz de beber dessa água, achar que posso fazer isso só. Às vezes penso que tenho que me deixar seguir pelo fluxo e esperar que ele me leve de volta à superfície. Mas na verdade a solução é simples: eu tenho que me deixar afogar nessas águas, tenho que deixar com que ela pare lentamente esse gongo que bate em meu peito, tão mansa, tão lenta quando as ondas que batem nas pedras... Só assim posso voltar a respirar.