quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
Suspiro
sábado, 9 de fevereiro de 2013
O Conto dos Três Raposos
No meio de um vilarejo qualquer havia uma macieira, ninguém sabe quando surgiu ou de onde surgiu, a única coisa que sabiam é que ela sempre esteve lá, os mais velhos sempre contavam isso. Mas a magia não está no mistério de sua existência, e sim no que a macieira é capaz de fazer. Com frutos magníficos, a macieira não conhecia tempo ruim, faça chuva ou sol. Ao retirar um fruto de seus galhos outro logo surgia em seu lugar. A cidade era próspera e feliz; era tudo o que conheciam.
Não muito longe da cidade, em uma pequena casinha cercada por árvores e um rio que passava perto do local, viviam três irmãos - três raposas para ser mais exato. Tudo de que precisavam estava ali, na terra. Seguiam o que a sua mãe haviam lhes ensinado, sempre respeitar a natureza e tudo o que ela oferece, e que, só retirassem dela o que suas mãos conseguissem carregar. Sua mãe já não estava mais lá para lhes dar esse conselho (caminhava preocupada tentando achar o medalhão do filho mais novo, este dissera a ela que o tal objeto caiu nas águas enquanto ele passava pela ponte que ligava a casa deles ao caminho da cidade. Enquanto procurava, a mãe raposa arriscou-se a entrar no rio. Ninguém sabe ao certo o que aconteceu), mas seu conselho perdurava em suas mentes como uma brisa doce e grudenta.
O inverno estava se aproximando, então os irmãos Raposos precisavam se apressar a pegar suprimentos e lenha para se aquecerem nos tempos difíceis. O irmão do meio foi o primeiro a terminar a tarefa da qual estava encarregado: precisou pegar lenha - apanhou do chão apenas um galho caído de cada árvore por onde passava, assim não iria interferir muito, como também deixaria abrigo para os animais menores. Logo o irmão do meio se dirigiu para a cidade. Chegando lá, viu que ainda havia crianças brincando no pátio enquanto aguardavam suas mães que estavam a pegar os frutos da árvore tão adorada. A fila era pequena, cada um pegava apenas uma maçã, o inverno ainda ia se demorar, haveria tempo de estocar comida. Quando chegou sua vez, o Raposo do meio, lembrando-se de que seus irmãos talvez não terminassem seus afazeres a tempo, decidiu pegar mais duas maçãs. De repente ouviu um galho quebrando, mas todos já voltavam para suas casas... Foi o vento.
***
Caminhando pela floresta à procura de uvas e ovos deixados à solidão por uma mãe pássaro, o Raposo mais novo ouviu uma coruja cantarolando no galho de uma árvore. Ele sabia que quando uma coruja cantava na véspera de um inverno que fora profetizado como rigoroso, significava sinal de boa sorte. Com os olhos que só uma criança tem, o pequeno Raposo percebeu que a velha ave não tinha estocado comida alguma; subiu com esforço a árvore e depositou metade do que tinha coletado para o sábio animal, ao descer farejou um forte aroma de uvas frescas, deveria estar por perto. Andou mais um pouco.
Exausto, mas animado, o Raposo do meio chegou em casa - sabia que a neve se aproximava, amava aquela Lady de casaco branco que cobria todo o mundo; fazia-o lembrar de sua mãe, os momentos felizes à andar pela floresta que se vestia com um véu de noiva pronta para se casar com a felicidade. Ao entrar pela porta que dava na cozinha, viu os seus dois irmãos se preparando para a chegada do inverno. Era como um ritual anual, uma cerimônia secreta, onde os únicos membros desta eram os três.
Na manhã seguinte os Raposos acordaram assustados: barulho para todo lado, animais gritando e correndo - parecia que a floresta havia se levantado queixando-se do tempo perdido enquanto estava dormindo. Os Raposos pegaram suas espingardas e correram para a porta, ao correrem para o lado de fora o alivio veio tão rápido quanto a confusão de passos que iam a todas as direções. Nenhum animal se falava, amigos pareciam completos desconhecidos, mas todos com um propósito em comum: chegar à cidade. Ao tentar falar com um dos animais que passava, o Raposo do meio quase foi pisoteado por um enorme javali, a única coisa que conseguiu ouvir foi "...ara a árvore!". Sabia que algo muito errado estava acontecendo. Pediu para que o irmão mais novo ficasse em casa, assim ficaria protegido do frio que já se espalhava por todos os lugares.
Correu na direção da pequena ponte de madeira junto com o irmão mais velho, a atravessou com a mesma facilidade de quem pula de um quadrado feito de giz no chão para outro. Passou por uma fila de animais, saltou por cima de um urso e quase pisou em um pobre esquilo, mas ao olhar para trás, viu que seu irmão já não estava mais lá.
Chegando na cidade, a cena que presenciou era digna de uma obra de Edvard Munch. Todos corriam de um lado para o outro, gritos, confusão. Mas o que mais causou náuseas no Raposo não foi o fato de o terror ter se alastrado por todo o vilarejo, e sim de todos os presentes ali estarem despedaçando o peito que os alimentou por várias gerações, e quem sabe até séculos. Todos abocanhavam e pegavam o máximo de frutos que conseguiam, outros, com maior esperteza, esperava alguém passar desprevenido e pegava os frutos arrecadados. Só após algum tempo que os animais deram conta que o frio já havia se espalhado. Então tudo piorou, animais corriam para as casas mais próximas e roubavam lenhas e até pertences dos outros, a revolta era grande, logo começaram a incendiar tudo; a linha de maldade estava dividida: de um lado os saqueadores e incendiários, do outro os amantes da gula, que não se importavam se suas casas estavam queimando ou que fossem ficar sem abrigo durante o inverno, no momento o que importava era conseguir mais e mais comida.
No fim a árvore não aguentou - um enorme urso, em ataque de fúria, se jogou em cima da macieira. Tudo morreu. Tudo por algum tempo ficou em completo silêncio; a árvore mãe, quem cuidou e amamentou todos aqueles filhos ingratos, agora jazia em um caixão branco. Para completar o clima de ruína, um corvo, nascido em vestimenta de luto, pousou sobre a pequena árvore e cantou um lamento amargo, um choro tão alto que dava para ser ouvido de todos os lugares. O corvo continuo a chorar, mas o que quebrou seu lamento foi um simples "apontar"; uma velha garça apontava para o Raposo do meio, suas únicas palavras foram: "Foi ele, ele é o responsável por tudo isso. Ele matou nossa pequena macieira. Foi ele quem eu vi primeiro carregando não uma, mas sim TRÊS maçãs!". Não foi preciso dizer mais nada, o pobre Raposo foi traído pelos seus próprios pulmões; nem um som foi emitido. Se casas para se abrigarem, sem lenha para se esquentarem, a única coisa que restava era saciar a sede de vingança e de fome. Uma morte não se paga com uma vida, mas uma vida pode ser igualada a morte; pegaram o pobre Raposo, o amarraram com a única corda que sobreviveu ao incêndio e depois usaram o "corpo" da jazida árvore como lenha. Nem uma lagrima foi derramada pelo pobre animal, nem um grito de dor ou súplica perante aquele sacrifício. Ao terminarem com o banquete, os animais sabiam que a morte chegaria em questão de tempo. Estavam felizes, estavam saciados fisicamente e espiritualmente, assim como também estavam mortos.
Na pequena casinha o irmão mais novo sabia que algo de errado estava acontecendo - ouvira o corvo lamentar, e palavras escuras sempre trazem consequências escuras. Estava com fome, o pouco de comida que trouxera para casa foi devorada no jantar do dia anterior. Olhou pela janela da cozinha que dava de frente com a casa da velha coruja e percebeu que esta estava a gargalhadas; com comida abundante a esperta coruja bebia de seu vinho e cantarolava. Então foi daí que senti o aroma das uvas, pensou o pequeno Raposo. Não sabia ao certo se era a fome que estava lhe causando delírios ou apenas o vento soprando lá fora, mas o pequeno Raposo estava ouvindo uma voz familiar... Muito familiar.
(Vem, filho, estou te esperando!)
O pequenino abriu a porta rapidamente. Não soube se isso era realmente realidade, mas sabia que estava acontecendo. Sua mãe o esperava na velha ponte de madeira, estava com os braços abertos esperando que ele fosse ao seu encontro.O pequeno Raposo correu sem se importar com o frio que fazia lá fora, chegando na ponte sua mãe não estava mais lá... Fora apenas uma ilusão...
Você não tem nada para me contar? Perguntou ela - ela agora estava encima do rio congelado. O pequeno Raposo sabia do que sua mãe estava falando, e com lágrima nos olhos ele retirou do bolso o medalhão que sua mãe tanto procurara, e que o preço pela busca foi a perda de sua vida. Sua mãe estava lá, de braços abertos para ele. Do nada o Raposo mais velho apareceu a seu lado e disse: vai com a mamãe, filho. E foi o que o pequeno fez, sua mãe o esperava de braços abertos, o rio estava congelado. Não se sabe como exatamente aconteceu, mas quando o pequeno Raposo abriu os olhos sua mãe estava o abraçando, ambos afundando lentamente em águas gélidas e escuras, mas o amor os aqueceu... Até o último batimento. O Raposo mais velho ficou a observar naquela ponte velha, não havia mais ninguém, o Raposo então se espalhou pelo ar como pequenos flocos de neve; e o inverno enfim se estabeleceu.
O inverno estava se aproximando, então os irmãos Raposos precisavam se apressar a pegar suprimentos e lenha para se aquecerem nos tempos difíceis. O irmão do meio foi o primeiro a terminar a tarefa da qual estava encarregado: precisou pegar lenha - apanhou do chão apenas um galho caído de cada árvore por onde passava, assim não iria interferir muito, como também deixaria abrigo para os animais menores. Logo o irmão do meio se dirigiu para a cidade. Chegando lá, viu que ainda havia crianças brincando no pátio enquanto aguardavam suas mães que estavam a pegar os frutos da árvore tão adorada. A fila era pequena, cada um pegava apenas uma maçã, o inverno ainda ia se demorar, haveria tempo de estocar comida. Quando chegou sua vez, o Raposo do meio, lembrando-se de que seus irmãos talvez não terminassem seus afazeres a tempo, decidiu pegar mais duas maçãs. De repente ouviu um galho quebrando, mas todos já voltavam para suas casas... Foi o vento.
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Caminhando pela floresta à procura de uvas e ovos deixados à solidão por uma mãe pássaro, o Raposo mais novo ouviu uma coruja cantarolando no galho de uma árvore. Ele sabia que quando uma coruja cantava na véspera de um inverno que fora profetizado como rigoroso, significava sinal de boa sorte. Com os olhos que só uma criança tem, o pequeno Raposo percebeu que a velha ave não tinha estocado comida alguma; subiu com esforço a árvore e depositou metade do que tinha coletado para o sábio animal, ao descer farejou um forte aroma de uvas frescas, deveria estar por perto. Andou mais um pouco.
Exausto, mas animado, o Raposo do meio chegou em casa - sabia que a neve se aproximava, amava aquela Lady de casaco branco que cobria todo o mundo; fazia-o lembrar de sua mãe, os momentos felizes à andar pela floresta que se vestia com um véu de noiva pronta para se casar com a felicidade. Ao entrar pela porta que dava na cozinha, viu os seus dois irmãos se preparando para a chegada do inverno. Era como um ritual anual, uma cerimônia secreta, onde os únicos membros desta eram os três.
Na manhã seguinte os Raposos acordaram assustados: barulho para todo lado, animais gritando e correndo - parecia que a floresta havia se levantado queixando-se do tempo perdido enquanto estava dormindo. Os Raposos pegaram suas espingardas e correram para a porta, ao correrem para o lado de fora o alivio veio tão rápido quanto a confusão de passos que iam a todas as direções. Nenhum animal se falava, amigos pareciam completos desconhecidos, mas todos com um propósito em comum: chegar à cidade. Ao tentar falar com um dos animais que passava, o Raposo do meio quase foi pisoteado por um enorme javali, a única coisa que conseguiu ouvir foi "...ara a árvore!". Sabia que algo muito errado estava acontecendo. Pediu para que o irmão mais novo ficasse em casa, assim ficaria protegido do frio que já se espalhava por todos os lugares.
Correu na direção da pequena ponte de madeira junto com o irmão mais velho, a atravessou com a mesma facilidade de quem pula de um quadrado feito de giz no chão para outro. Passou por uma fila de animais, saltou por cima de um urso e quase pisou em um pobre esquilo, mas ao olhar para trás, viu que seu irmão já não estava mais lá.
Chegando na cidade, a cena que presenciou era digna de uma obra de Edvard Munch. Todos corriam de um lado para o outro, gritos, confusão. Mas o que mais causou náuseas no Raposo não foi o fato de o terror ter se alastrado por todo o vilarejo, e sim de todos os presentes ali estarem despedaçando o peito que os alimentou por várias gerações, e quem sabe até séculos. Todos abocanhavam e pegavam o máximo de frutos que conseguiam, outros, com maior esperteza, esperava alguém passar desprevenido e pegava os frutos arrecadados. Só após algum tempo que os animais deram conta que o frio já havia se espalhado. Então tudo piorou, animais corriam para as casas mais próximas e roubavam lenhas e até pertences dos outros, a revolta era grande, logo começaram a incendiar tudo; a linha de maldade estava dividida: de um lado os saqueadores e incendiários, do outro os amantes da gula, que não se importavam se suas casas estavam queimando ou que fossem ficar sem abrigo durante o inverno, no momento o que importava era conseguir mais e mais comida.
No fim a árvore não aguentou - um enorme urso, em ataque de fúria, se jogou em cima da macieira. Tudo morreu. Tudo por algum tempo ficou em completo silêncio; a árvore mãe, quem cuidou e amamentou todos aqueles filhos ingratos, agora jazia em um caixão branco. Para completar o clima de ruína, um corvo, nascido em vestimenta de luto, pousou sobre a pequena árvore e cantou um lamento amargo, um choro tão alto que dava para ser ouvido de todos os lugares. O corvo continuo a chorar, mas o que quebrou seu lamento foi um simples "apontar"; uma velha garça apontava para o Raposo do meio, suas únicas palavras foram: "Foi ele, ele é o responsável por tudo isso. Ele matou nossa pequena macieira. Foi ele quem eu vi primeiro carregando não uma, mas sim TRÊS maçãs!". Não foi preciso dizer mais nada, o pobre Raposo foi traído pelos seus próprios pulmões; nem um som foi emitido. Se casas para se abrigarem, sem lenha para se esquentarem, a única coisa que restava era saciar a sede de vingança e de fome. Uma morte não se paga com uma vida, mas uma vida pode ser igualada a morte; pegaram o pobre Raposo, o amarraram com a única corda que sobreviveu ao incêndio e depois usaram o "corpo" da jazida árvore como lenha. Nem uma lagrima foi derramada pelo pobre animal, nem um grito de dor ou súplica perante aquele sacrifício. Ao terminarem com o banquete, os animais sabiam que a morte chegaria em questão de tempo. Estavam felizes, estavam saciados fisicamente e espiritualmente, assim como também estavam mortos.
Na pequena casinha o irmão mais novo sabia que algo de errado estava acontecendo - ouvira o corvo lamentar, e palavras escuras sempre trazem consequências escuras. Estava com fome, o pouco de comida que trouxera para casa foi devorada no jantar do dia anterior. Olhou pela janela da cozinha que dava de frente com a casa da velha coruja e percebeu que esta estava a gargalhadas; com comida abundante a esperta coruja bebia de seu vinho e cantarolava. Então foi daí que senti o aroma das uvas, pensou o pequeno Raposo. Não sabia ao certo se era a fome que estava lhe causando delírios ou apenas o vento soprando lá fora, mas o pequeno Raposo estava ouvindo uma voz familiar... Muito familiar.
(Vem, filho, estou te esperando!)
O pequenino abriu a porta rapidamente. Não soube se isso era realmente realidade, mas sabia que estava acontecendo. Sua mãe o esperava na velha ponte de madeira, estava com os braços abertos esperando que ele fosse ao seu encontro.O pequeno Raposo correu sem se importar com o frio que fazia lá fora, chegando na ponte sua mãe não estava mais lá... Fora apenas uma ilusão...
Você não tem nada para me contar? Perguntou ela - ela agora estava encima do rio congelado. O pequeno Raposo sabia do que sua mãe estava falando, e com lágrima nos olhos ele retirou do bolso o medalhão que sua mãe tanto procurara, e que o preço pela busca foi a perda de sua vida. Sua mãe estava lá, de braços abertos para ele. Do nada o Raposo mais velho apareceu a seu lado e disse: vai com a mamãe, filho. E foi o que o pequeno fez, sua mãe o esperava de braços abertos, o rio estava congelado. Não se sabe como exatamente aconteceu, mas quando o pequeno Raposo abriu os olhos sua mãe estava o abraçando, ambos afundando lentamente em águas gélidas e escuras, mas o amor os aqueceu... Até o último batimento. O Raposo mais velho ficou a observar naquela ponte velha, não havia mais ninguém, o Raposo então se espalhou pelo ar como pequenos flocos de neve; e o inverno enfim se estabeleceu.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Hino dos naufragados:
Ganhei! Perdi meu dia, no tom da melodia, com um toque de hipotermia, ao som da nossa sinfonia. Por que não? Perdido na solidão, caminhando na contramão, na batida do meu coração, com um balaço em forma de paixão. Então foi, o início da maldição, quando um dia já fui são, afundando na solidão, que ouvi nossa canção.
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