Hoje acordei com algo batendo rápido em meu peito, o ressentimento me enganou quando achei que o responsável por isso era o coração. Aproveitei as primeiras horas da manhã de uma forma diferente, com uma companhia diferente: o ressentimento estava ao meu lado. Ressentimento de quê? Essa foi a pergunta que fiz. O medo de uma coisa só piora o estado de quem a sofre, mas esquecer desse medo e fingir que nunca passou por esse transtorno é como vendar os olhos e atirar uma flecha para cima sem se importar aonde ela vai cair, sem se importar que possa cair em minha cabeça. Percebi que estava preso em minha própria gaiola, tenho asas, porém, o voo não será necessário até resolver questões em aberto. O ídolo, já morto em minha cabeça, estava encima da estante dentro de uma caixa, caixa que mais se parecia algo vindo das eras lúdicas, algo como a "caixa de Pandora". Percebi que para acabar com essa tormenta, que agora chegava aos meus ouvidos, eu teria que rasgar meu peito e arrancar esse ressentimento, essa cólera; teria que a expor e fazer com que ela sinta culpa e remorso, só depois de se redimir e pagar pelos seus pecados ela deixaria de existir... Me deixaria em paz! Abri a caixa, depositei-a ao lado do ídolo e ele a abraçou, só então percebi que havia perdão naquele abraço. Fechei a caixa, enterrei-a em um buraco profundo e escuro, onde eu não possa achar, onde eu não possa lembrar. No mesmo instante surgia desse ritual duas árvores: uma com frutos escuros e pecadores, já a outra era branca e com a beleza de uma deusa antiga, banhada de orvalho de uma manhã de glória, mas como parte desse ritual eu deixaria para trás tudo o que depositei na caixa... Quando percebi estava na gaiola, não sabia como voltar para a árvore da salvação que estava bem na minha frente, nenhum mapa para que eu pudesse fazer a escolha fácil. Mas agora o peso foi embora, agora a gaiola estava aberta, a libertação veio como um impacto físico e espiritual; podia voar; já não havia restrições.
