Acordei em minha cama, dessa vez foram as memórias que trouxeram o primeiro banquete. Lembrei de ontem, o sol brilhava, as nuvens se escondiam deixando que apenas a tua beleza existisse no mundo, e o que falar de teus olhos, embora tudo fosse claro, a única luz eram teus olhos, esses teus lindos olhos. Voltei, o vazio me trouxe de volta para o presente sem amigos, sem comida, sem amor; apenas eu, a dor e o frio. Você se foi e levou toda a alegria, volte por favor, se o preço para isso for a tua volta sem luz e a escuridão te acompanhar, que venha; me tornarei escuridão também. Me levantei da cama, ao por os pés no chão minha cabeça fez o mesmo, me dei conta que nada era sonho. Fui de encontro a janela, rabiscos de cinza manchavam tudo, o céu, a terra e o mar; a única vida la fora eram os pássaros, corvos para ser mais preciso, de suas asas escuras saíram palavras escuras, desespero e o único som produzido era um "venha". Nem teus olhos em meus mais puros pensamentos se salvaram, a luz deles também se extinguiram. Abri minha porta, vi um garoto a brincar, aproveitando sua doce infância, o garoto para minha surpresa era claro, as raízes ao seu redor dançavam, brincavam com ele, porém as raízes aos meus pés prendiam-me, lembrei da sua música, a música de exorcismos que sempre expulsava a tristeza e nos magnetizava a felicidade. Só por esse momento o céu chorou, até ele lembrou de você. Anjos despejavam águas no lamento desta terra, e de suas bocas proferiam milagres... mas nem um atendeu a meu pedido. Cansado da dor e da tormenta, tentei me livrar da cólera, da praga. Mas uma vez os corvos me chamavam, e dessa vez chamavam por meu nome. Céu e terra eram apenas passado, ambos se casaram, uniram-se e agora são apenas um. O penhasco estava bem a minha frente, os corvos dançavam ao meu redor, como em um ritual pagão, as árvores murmuravam brisas e usavam máscaras jamais vistas, embora não houvesse mais ninguém ali, sabia que estava sendo observado... estava indo de encontro a salvação! Joguei-me do penhasco, as promessas de salvação eram falhas, nem uma mão veio a meu encontro, nem um anjo ousou me ajudar; nem mesmo o Salvador lançou uma brisa sublime que me consolasse, mas eu sabia o que fazer. Se a salvação não era meu caminho, opto por ser dor e mágoa e dessa forma partirei com os meus irmãos de preto. Tornei-me corvo, abri minhas asas voei de encontro ao cinza, e me tornei dor.
