quinta-feira, 31 de maio de 2012

Análise Ceremonials - Florence and the Machine



Florence nos convida para uma cerimônia um pouco diferente...

Depois do tão aclamado Lungs que com sua diversidade deu um "sopro de vida" na indústria musical, Florence e sua máquina agora vem não com fábulas, mas sim com uma incrível cerimonia.Vivemos em uma era onde a música é um produto comercial e só permanece no cenário musical quem conseguir atrair mais "clientes", independente da qualidade do que é ofertado, Florence nos mostra que nem todos são assim.

Ceremonials é um pouco extensa, mas quem se importa? Vamos à análise:

Welch nos inicia (sim inicia, essa é a proposta, afinal isso é uma cerimônia) com "Only If For a Night", a introdução ideal aos delírios musicais em que ela se empenha nesse Ceremonials. Florence fala de vozes e fantasmas a perseguindo devido a um amor frustrado, é uma balada etérea que emerge de corais, órgãos e teclados para elevar ainda mais a performance vocal da inglesa. Acredito que Florence compôs essa música para sua falecida avó; ela consegue nos transportar para um mundo onde o físico e o espiritual se ligam constantemente. É de longe uma inteligência incrível.

"Shake It Out" na minha opinião tem uma das melhores composições da Florence (Cosmic Love também, é claro), o que se ouve aqui é a percussão e o acompanhamento ininterrupto do órgão, mas alguns sutis toques de sons eletrônicos e claro, os corais que fazem o cerne de Ceremonials. Com a voz gigantesca e a interpretação intensa, Florence faz da letra sobre "sacudir" os próprios demônios e "cortar fora" o próprio "coração desajeitado" uma libertação/purificação contagiante, aliás a letra é extremamente metafisica, usando metáforas sobre Céu e Inferno. O clipe vem recheado de elementos da misticidade pagã inerente a Florence.  

"What The Water Gave Me" é uma música divina, transcendental. Na música Florence trouxe Kahlo, Wolf e todo um misticismo poético e sombrio, reflete todo o poder do elemento natural chamado água, a música também fala de um amor mal-sucedido. Só que esse amor é elevado a um nível trágico, um nível de sacrifício.

"Never Let Me Go" é uma música capaz de soar como um sussurro ao pé da orelha mesmo quando a cantora eleve sua voz as alturas. Seu "tão frio, mas tão doce" é declamado com essas mesmas qualidades, um suspiro forte, que soa como um vento gelado no rosto, mas que carrega um perfume viciante com ele. A música parece se comunicar com "What The Water Gave Me" soa quase como uma canção pré-suicídio por afogamento. Lembra Virginia Woolf, por analogia.

 "Breaking Down" É realmente impressionante, desde a melodia que se torna gigantesca com o passar do tempo, até a composição (mais uma vez aplaudo a genialidade da Florence). A música fala sobre solidão, sobre aceita-la, mas em certos momentos da para se perceber que mesmo que a Florence se renda a isso, mesmo que ela aceite, parece que ela está farta disso, esta ruindo por dentro. Por outro lado, quando chega a parte do coral, parece que somos levados para um clima de conforto onde nossa única e melhor companhia é a solidão.


"Lover To Lover" Lembra muito a música negra dos anos 60 e 70. A música explora todo o potencial vocal da cantora, parece que a música se comunica diretamente com Howl do álbum anterior, Lungs. Enquanto em Howl, Florence perseguia seu amado, o devorava e queria de qualquer forma proclamar o seu amor para ele, em Lover To Lover é um pouco diferente. Nesta, ela tem consciência do que fez, mas não se arrepende. Sabe que a salvação não é mais opção, esta longe de consegui-la, só resta agora afundar em suas escolhas, mas com perseverança e bravura de saber que não tem volta. A diferença entre as duas músicas é que nesta ela sofre uma "batalha" interna, onde ela se julga e se questiona.


"No Light, No Light" A letra retrata a libertação musical de tudo que o sujeito da mesma não é capaz de "dizer em voz alta", mas parece achar tão fácil "cantar para uma multidão", é uma paixão arrebatadora. A música começa suave e triste, lembrando Never Let Me Go, sugerindo uma certa tristeza nesse amor. Mas a batida cresce e a intensidade de Florence também e logo a tristeza se transforma em uma explosão harmônica entre a voz da cantora e o coro de fundo.

"Seven Devils" Melodia sombria, corais que lembram uma invocação pagã. Não se trata de uma adoração, a intenção aqui é reconhecer os "sete demônios", acolhe-los, ser capaz de encará-los. A música também pode falar de um amor frustrado, onde Florence proclama que não voltará atrás "o que esta feito, esta feito".

"Heartlines" É totalmente céltica ou africana, desde a batida até a voz da Florence, lembra um pouco o Lungs.

"Spectrum" De uma certa forma fala de amor, quando tudo esta sombrio (cinza) basta lembrar que existe o amor, e de certa forma tudo se "ilumina".

"Leave My Body" Florence "deixa seu corpo", e deixa também a impressão de um ótimo álbum (é impressionante como ela consegue misturar a arte e o espiritual)



Ceremonials é um emaranhado de arranjos instrumentais calcados na música erudita. Florence faz com que cada uma de suas canções se convertam em clássicos, ou como o próprio álbum aponta, pequenas etapas de uma gigantesca cerimonia. Ceremonials pode ser grande de mais, complexo de mais, cansativo de mais, mas quem se importa? Ceremonials é uma elevação de espírito bem século XXI, através da proclamação em voz alta e clara das próprias falhas e assombrações.

Gosto de comparar Florence + The Machine como um delicioso bolo com uma bomba dentro, suas músicas começam lentas, sublimes e logo após há uma explosão de instrumentos e coros tudo muito bem estruturado. Florence Welch já pode deixar a preocupação de lado, depois de Ceremonials a musicista revela não ser apenas uma simples promessa da música britânica, mas uma sólida garantia.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cartas para o Tempo

Não é uma crítica, apenas acúmulo de pensamento (preciso pensar mais)...

Tudo começa no início.Nasci. Desde o começo vejo o tempo como um presente gratificante mais que deve ser tratado com devido respeito. Depois de tanto tempo (mesmo que pra mim não seja nada mais que alguns fleches) pude perceber quão interessante é isto aqui, o mais fascinante é que mesmo tudo/qualquer coisa se modificando o tempo continua o mesmo, ou melhor, sua essência continua a mesma.
Não, isso não é uma carta de suicídio, seria interessante e ao mesmo tempo contraditório eu me suicidar. Passando de tempos em tempos pude ver como tudo mudou, as pessoas continuam as mesmas mas o fator principal (tempo) mudou tudo. Queria logo acabar com isso, as pessoas hoje são cruéis, não que antigamente não fossem assim, o que quero dizer é que com o passar do tempo achei que as coisas iriam melhorar... achei.
É ruim ver uma parte de mim morrer a cada segundo, mesmo sabendo que nunca por completo vou morrer. Tenho pena das pessoas, especialmente aquelas que se acomodam na ignorância, aquelas que com o acúmulo de rancor já não tem mais sentido para viver, mas, tenho ainda mais pena daquelas que tiram suas vidas por não suportar o mundo em que vivem, essas pessoas não sabem o quanto me ferem (a cada segundo)...
Vi pessoas morrerem por nada, tiraram suas vidas de graça e tudo por causa de algumas coisas: crença, guerra... mais não estou aqui para julgar. O pior é presenciar a crueldade e não poder fazer nada, ficar apenas como uma espécie de "testemunha invisível", testemunha essa que não pode testemunhar, interessante não?
Tudo isso já foi melhor, tudo era pequeno, os problemas eram pequenos. Muitos me consideram um ser etéreo, discordo, como poderia eu ser algo intocável? Toda e qualquer coisa pode me tocar, basta é claro estar vivo, a única coisa que se tem de fazer é olhar para dentro, lá me encontrará (Sou a matéria, a respiração, o pensamento/ideia, o que ainda esta por vir). A carta que para você escrevo não é para mostrar minha indignação perante o mundo ou para mostrar como surgi e permaneci, apenas gostaria de dizer mais algumas coisas. Gostaria de mostrar minha admiração pelo tempo que desde os primórdios me acompanha de bom grado. Pra mim a maior contradição que existe é o tempo e claro, eu, a cada segundo, a cada momento, o tempo mata uma parte de mim, mais ao mesmo tempo faz outra nascer, esse grande circulo é infinito. Por mais que me decepcione com as ações das pessoas ou como elas usam seu bem mais importante ainda existe algo para o qual vale apena existir (ou não), o tempo, só ele pode aliviar uma dor sufocante ou alimenta-la ainda mais. Como disse no inicio não posso morrer, seria algo impossível, algo que quebraria qualquer lei, para quem o tempo iria passar se eu não mais aqui estiver?...
Uma coisa é certa, não sei como será daqui pra frente, só sei que sempre estarei com você Tempo.

De: Vida
Para: Tempo

Continua...