Um dia desses o professor de Português passou uma atividade sobre as músicas "Admirável Chip Novo" da Pitty e "Admirável Gado Novo" do Zé Ramalho então tive a idéia de tirar um dia da semana pra postar um
filme aqui. Mais oque essas músicas tem haver com a idéia da postagem? Tudo,
não com a postagem em si mas com o filme que irei postar...
Metrópolis (1927)
Farei uma análise sobre o filme, quem se interessar é um ótimo filme, recomendo.
Obra-prima à frente do nosso tempo. Continua atual.
Muitas décadas antes dos irmãos Wachowski nos presentearem com a baboseira
pseudo-filosófica de Matrix Reloaded e Matrix Revolutions (não citarei o
original de 1999, pois ainda o acho um marco na história do cinema, embora a
premissa não tenha sido bem aproveitada), um verdadeiro gênio do cinema - Fritz
Lang (autor do também excepcional M - O Vampiro de Dusseldorf), já nos brindava
com a sua visão bem mais realista do que poderia vir a ser o futuro da
humanidade.
Sempre reverenciado e imitado por vários cineastas, inclusive os mais importantes
da História, Lang traçou um perfil de como ele imaginava um futuro (baseada na
novela escrita por Thea von Harbou, que também escreveu o roteiro em parceria
com Lang) onde haveria uma classe dominante (os ricos) e uma classe dominada
(os operários), que viviam em suas cidades no subsolo, onde trabalhavam
diuturnamente, em períodos divididos de 10 horas cada, para não deixarem que a
cidade onde os mais ricos moravam parasse. Ou seja: estamos em um futuro
distante e o mundo está sob o comando dos poderosos, que isolaram os mais
pobres no subsolo como se fossem seus escravos, para que trabalhassem em prol
dos mesmos.
Comandados por Freder Fredersen (Gustav Fröhlich), os operários são obrigados a
trabalharem sem parar para que a cidade não pare. Um dia, após achar planos de
uma possível rebelião nas roupas de um operário que havia morrido em um
acidente, o filho de Fredersen, Johhan Fredersen (Alfred Abel), decidiu descer
até a cidade dos operários, lá vendo quão desumano era o tratamento que eles
sofriam - cena memorável a que ele fica exausto tendo de trabalhar em uma
máquina com ponteiros, não vendo a hora em que as suas 10 horas de turno
terminassem.
E é naquele local horroroso que ele encontra a bela Maria, que em uma das
reuniões à qual ele comparece como se fosse um trabalhador comum, vê que os
planos da rebelião estão mesmo sendo levados adiante. Mas, ao contrário de que
pensavam, eles querem que tudo seja feito na paz, e esperam que um mediador os
ajude a fazer isso. Mas os planos deles não dão muito certo, pois Freder
Frederson pede ajuda a um cientista de sua confiança (interpretado por Rudolf
Klein-Rogge), que está trabalhando na construção de um robô que será capaz de
substituir os humanos no trabalho. E ele seqüestra Maria, substituindo-a pelo robô,
infiltrando-o no meio dos operários para tentar causar a discórdia e a própria
destruição dos mesmos, mostrando assim que estes não merecem o respeito que
exigem.
Assim como na saga futurista dos irmãos Wachowski, os operários são levados a
acreditar que um dia virá alguém que os libertará de todo esse sofrimento e
angústia. No caso, O Mediador. Mas aqui a espera deles têm algum fundamento,
pois liderados por Maria (interpretada por Brigitte Helm, que também faz o
papel do robô que toma o lugar dela), eles acreditam que "não pode haver
entendimento entre a mão e o cérebro se o coração não agir como mediador"
(sentença hoje célebre no mundo do cinema). E é por esse coração que todos
aguardam. Como podemos ver, em sua visão do futuro, o diretor não estava tão
errado, pois hoje em dia já acontece algo parecido: os trabalhadores têm que
fazer com que o país não pare, enquanto que a classe mais poderosa somente
desfruta de todas as regalias às custas de quem trabalha incessantemente.
Com uma bela história e um jeito único de contá-la, Fritz Lang nos mostra que
não é preciso encher um filme de efeitos especiais (embora estes também foram
necessários para criar um visual revolucionário para a época) e lances
futuristas que sabemos ser difícil de que venham a acontecer para se fazer um
bom filme de ficção. Imitado por várias gerações posteriores, Lang tinha uma
particularidade que anos após veio a ser copiada pelo maior mestre do suspense.
Após ter de ensinar a um ator como deveria fazer com a mão em um close, o diretor
acabou gostando do take e utilizando-o no filme original. A partir daí, ele
optou por colocar em todos os seus filmes um close de sua própria mão. Alfred
Hitchcock o imitou aparecendo em todas as suas películas. E hoje em dia M.
Night Shyamalan faz a mesma coisa. O que é bom tem de ser copiado mesmo.
O filme original, feito em 1927 (portanto, mudo), tinha mais de cinco horas de
duração. Mas com o passar dos anos, ele foi sendo enxuto, até que chegasse hoje
em dia com a sua versão de um pouco mais de duas horas de projeção. Com tantos
filmes ruins sendo refilmados, os executivos de Hollywood deveriam tentar
recontar essa história, com os recursos que dispõem hoje. Se derem sorte de
pegar um bom diretor, teremos uma ótima história nas telas. Se você se acha
entendedor de filmes, esse é indispensável.
 |
| Metropolis 1927 |